Hoje estava relendo alguns gibis antigos, um dos itens do meu patrimônio mais cobiçados por Ava. Deitei-me na rede com uma pilha de revistas e comecei a viajar como não fazia há uns 30 anos. Carl Barks, o homem dos patos. O cara brilhante que inspirou a mim, Spielberg e George Lucas (tô bem acompanhado) e tantos outros. Suas histórias mais pareciam storyboards de cinema. A editora Abril lançou no Brasil, há poucos anos, a coleção completa de histórias da família Pato desenhadas por ele. Disney era a grife, o artista era Barks. Escrevia as histórias e as desenhava. Puta roteirista. Exímio desenhista. Apenas com o preto e o branco o cara desenhava paisagens lindas inspiradas nas fotos da revista National Geografic. Suas sombras são magistrais. Dar expressão e personalidades tão marcantes a patos não é fácil. Não é por outra coisa que o Donald é meu personagem preferido. O marinheiro é mais humano que muito candidato a presidente. Ele tem preguiça, ciúme, inveja, ódio, momentos brilhantes, tenta o sucesso tantas vezes quanto se frustra, ama, e é pai solteiro de três patinhos capetas (esse papo de tio já era). Foi a contragosto pra guerra. Tem tanto caráter que perdeu o lugar de símbolo americano pro Mickey, cagüete macartista.
O negócio é que o Donald queria ser bom pai, mas eram os patinhos que precisavam consertar suas bagunças. Davam-lhe, depois, lições de moral com o manual do escoteiro mirim em punho, comprovando que estavam certos. O Google é o novo manual dos escoteiros. Ele, que é sobrinho do pato mais rico e mais sovina do mundo, se submete às piores humilhações pra por comida em casa. Sente inveja e frustração quando o primo, apesar de incompetente, se dá melhor por pura sorte ou puxação de saco. Não sei se é vantagem ou desvantagem pra ele seus filhos não crescerem, ele curte o dobrado e também não tem problemas com idade. Admiro o caráter de alguém que, mesmo sendo pato, se aceita como é ao mesmo tempo em que tenta melhorar. Nunca vou esquecer dois desenhos animados (não sei se Barks é o roteirista, mas bem pode ser) em que Donald passa a falar com uma linda voz. Num deles, por conta de pílulas, ele vira um ótimo vendedor por causa da voz galante e, confiante, vai pedir a Margarida em casamento. No outro, depois de um vaso cair em sua cabeça, Donald tem amnésia e passa a cantar com a voz do Frank Sinatra. Fica rico e famoso, mas passa a tratar a namorada como uma estranha. Margarida faz de tudo para ser lembrada, mas sem sucesso e louca de amor, ela decide jogar outro vaso em sua cabeça para que ele volte ao normal. Em um momento se questiona: “O Donald de voz feia, pobre e azarado de sempre, mas que me ama, ou o Donald da bela voz que é amado por todos, admirado, rico e feliz, porém, que me despreza?” Era ela versus o mundo. E ela grita: “EU, EU, EEEEEEU!!!!” e lhe manda o vaso direto no coco.
8 comentários:
Passeando cheguei aqui...parabéns pelo pai que é!
Nunca gostei muito do Pato Donald, mas vou olhar para ele diferente depois de ver a leitura que fez dele.
Jussara
Oi Aggeo,
Adorei o post!!! Ótima comparação!!
Perfeito!!
Beijos,
Cris João.
Não me lembrava desses episódios em que a voz do Donald muda! Vou procurar por eles depois. Ótimo blog. Um beijo,
Míriam - redatora do Blog Maria Barriga
mariabarriga.blogspot.com
@MaBarriga
Com meus gêmeos em casa, de 3 anos e meio, ainda vejo muito Pato Donald, porém agora o desenho já não é tão bom quanto os de antigamente, que procurando consegui encontrar vários DVDS e mostrar um bom desenho a meus filhos...
Adorei a interpretação!
Sucesso e beijo na filhota
Muito bom seu blog!!!
Parabéns pro Ava e a Ava, pelo pai que tem!!!
Adorei o seu blog! Sou mãe e solteira e certamente tenho muito a aprender com o seu manual. Vou te seguir, OK?
Que lindo seu blog!!!
Parabéns!!!
www.achochicc.blogspot.com
uheuheuhueheuhuhe... muito bom...
gibis sempre
=)
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